quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Por que sou contra a Via Expressa

 


Em primeiro lugar por que é uma obra pública realizada com a intenção de valorizar os negócios da famiglia Sarney e sócios em São Luís. Vejamos: a avenida se inicia nos portões de fundo do CEUMA no bairro do Renascença, e segue ao lado do Shopping Jaracaty, que teve incluisve o seu entorno todo urbanizado em decorrência da obra. Depois passa ao lado do Shopping São Luís que tem Jorge Murad, esposo de Roseana Sarney, como sócio majoritário. Depois segue por onde do lado direito e esquerda temos terrenos loteados que, à se julgar pelas informações que nos chegam, pertecem ao senador Lobão Filho, aliado da famiglia na política e nos negócios. Depois irá desembocar na avenida Daniel de La Touche no Ipase ao lado do Shopping da Ilha, que tem os Sarneys também como sócio.
Em segundo lugar por que está agredindo violentamente moradores da comunidade do Vinhais Velho e aqui trata-se do fator humano. São pessoas que tem famílias, trabalhadoras, que pagam seus impostos e que receberam informação do governo dizendo que teriam que sair das suas casas, aceitar uma indenização chifrin, e que não teriam nada o que fazer, a não ser aceitar isso. Na linha de tiro da avenida estão um empreendimento, que gera emprego e renda para a economia da cidade, e o sitio do Seu Olegário, descendente dos índios Tupinambás, conforme registros em artigos da historiadora Antônia Mota. A região onde se encontra o sítio do Seu Olegário é um verdadeiro paraíso ambiental, com fontes de água pura, um açude e vegetação exuberante.
Depois vem os problemas ambientais. Serão cerca de 6km de avenida quase que totalmente construídas em cima de mangue. As fotos estão fartamente publicadas na internet e nas redes sociais para quem quiser ver a verdadeira tragédia ambiental que é a construção dessa avenida. E aqui cabe um adendo sobre o modelo de cidade que os cidadãos querem: se por um lado querem poder se deslocar livremente com obras de mobilidade urbana, por outro também querem ter o meio-ambiente preservado para uma melhor qualidade de vida na cidade. O grave é que o modelo de governo oligárquico autoritário em vigência não concebe a ideia de que o cidadão deva ser ouvido para tomada de decisões de obras de intervenção pública.
Depois vem o problema da agressão ao patrimônio histórico, cultural e arqueológico da região do Vinhais Velho. Primeiro núcleo de colonização da cidade. Pode-se afirmar com certeza que a cidade começou pelo Vinhais Velho. Uma vez instalado o forte de conquista de São Luís onde hoje fica o Palácio dos Leões, decidiu-se por iniciar o povoamento e a colonização nas aprazíveis terras onde hoje se localiza o Vinhais Velho. A citação é de artigo da historiadora Antônia Mota.

“Em 1757, a aldeia da Doutrina passou a se chamar Vila de Vinhais, com casa de Cadeia e Câmara, Vereadores e Juízes. O Arquivo Público do Maranhão guarda tanto os registros ligados à capela de São João Batista de Vinhais, com seus livros de batismos, casamentos e óbitos, como as atas e Livros de Registro do Conselho Municipal, estabelecido em um sobrado no anterior aldeamento jesuítico (MARQUES, 1970, p. 632).A comunidade estabelecida na antiga Eussouap era tão próspera neste período, que o governador Melo e Póvoas fundou ali uma “fábrica de soque de arroz”, onde foram empregados os outrora missioneiros. Este era um tipo de empreendimento muito comum nos arredores do porto de São Luís, uma vez que na segunda metade do século XVII, o Maranhão era grande exportador de algodão e arroz, sendo as fábricas de beneficiamento localizadas nas margens dos igarapés, aproveitando a força das águas para mover seus engenhos. Existem registros sobre várias destas fábricas nos arredores do porto de São Luís, a partir da Praia do Caju, passando por Santo Antônio, Remédios, Genipapeiro, Camboa, até chegar a Vila de Vinhais.” (Antônia Mota, Vinhais Velho ameaçado pela Via Expressa)


Estabeleceu-se também no Vinhais Velho simpĺesmente a primeira Igreja Católica de São Luís. Um verdadeiro patrimônio histórico-cultural. Outra riqueza de icomensurável valor são os sítios arqueológicos que existem na região. Os artefatos são fartamento encontrados e ajudam a compreender o que se passou no período da colonização. Se forem enterrados junto com a via expressa, será enterrado também os artefatos que ajudariam a entender mais sobre a história de São Luís e do Maranhão. Portanto em tempos de celebrações canhestras sobre os 400 anos de fundação da cidade o Vinhais Velho é um verdadeiro patrimônio histórico-cultural de São Luís que deve ser preservado pelo poder público e não destruído por uma avenida sem noção.
Por último sou contra a via expressa por ela ser um verdadeiro engodo no debate em curso hoje na cidade sobre os graves problemas estruturais existentes. É uma obra que terá um grande custo financeiro, com grave consequencias ambientais, que se afigura flagrante agressão ao patrimônio histórico-cultural e arqueológico de São Luís, e que não ajudará, ou ajudará muito pouco na resolução dos graves problemas de trânsito da capital. À quem ela realmente beneficará eu não sei mas desconfio...
Diante de todas essas objeções é salutar fazer alguns questionamentos:
Onde estava a promotoria do meio ambiente quando as obras começaram à ser construídas?
Onde estava o IPHAN quando o projeto da obra previa a destruição da comunidade do Vinhais Velho e todo seu patrimônio histórico, cultural e arqueológico?
Onde está o relatório de impacto ambiental da obra, já que a mesma está quase toda sendo construída em cima de manguezais?
A que interesses serve o senhor secretário de estado Max Barros que não se pronuncia sobre os direitos da comunidade e quer a todo custo entregar a obra ainda em dezembro deste ano?
Onde estão as escrituras de posse de terrenos do lado direito de esquerdo da primeira parte da obra e onde elas foram lavradas?
Essa regiao, lado direito e esquerdo da primeira parte da obra, não era um parque ambiental, o Santa Eulália?
Diante da propositura de uma audiência pública à ser realizada em breve sobre a questão do Vinhais Velho, esperamos que essas questões venham à tona e mais que isso... as explicações.

Bruno Rogens
Professor
Mestre em Ciências Sociais

Nenhum comentário: